Sou professor. Por que preciso pedir para dar aula?


Vivemos em uma sociedade na qual os limites devem ser estabelecidos, devem ser compreendidos e devem ser respeitados. É durante a educação que ensinamos aos nossos filhos que devemos percorrer o caminho da compreensão destes.
Todo ser humano precisa de regras e, através delas, é encaminhado na trajetória da vida. Adultos, adolescentes e crianças necessitam de limites. Certamente, uma criança que não lhes foi apresentada será um adulto de conduta

indesejável e inconsequente, tornando-se uma ameaça à sociedade e colocando em xeque o que prescreve o artigo 205 da Constituição Federal: “A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
A Educação Básica é norteada por dois princípios: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, ambos regidos pela Constituição da República Federativa do Brasil. Sérgio Marcelo Salvino Bezerra ESPAÇO PEDAGÓGICO Sou professor. Por que preciso pedir para dar aula?
Quando avaliamos esses documentos, percebemos a clareza em suas propostas: LDB, artigo 1º, parágrafo 2º: “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”.
No artigo 3º, alguns dos princípios que sustentam o ensino são: II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; IV - Respeito à liberdade e apreço à tolerância; VII - Valorização do profissional da educação escolar; IX - Garantia de padrão de qualidade; XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
O princípio VII é aquele que mais se distancia da realidade da sociedade brasileira. Condição extremamente desfavorável é o que o profissional da educação escolar encontra. Para não divagar e perder a epígrafe desse alento tempestivo, basta apenas lembrar as instalações físicas de nossas escolas, a desmotivação para uma formação continuada, a enfadonha jornada de trabalho para alcançar um salário digno... Não é preciso continuar...
É no profissional da Educação que está toda a sustentação da sociedade. É ele que eleva a autoestima do cidadão, levando-o a compreender seu papel como indivíduo, ensinando-o a exigir seus direitos e, acima de tudo, a conhecer seus deveres.
A família, base da sociedade, tem se configurado de forma diferente e comprometido a visualização e a compreensão correta por parte dos estudantes em relação ao ambiente escolar. Os pais pagam mensalidades às escolas e acreditam que é no ambiente escolar que toda a educação para a formação do indivíduo está depositada. Tais responsáveis deixam para a escola aquilo que é obrigação do lar, aquilo que deve ser ensinado no ambiente familiar. Mas o que tem sido a família na sociedade pós-moderna? O que esta tem ensinado ao indivíduo em formação?
Professores não têm mais compreendido seu papel no ambiente escolar. As aulas são chamadas de enfadonhas, desmotivadoras, sem criatividade, sem uma sequência didática adequada. Os professores são tachados de incompetentes, impacientes, acusados de não ter condições de controlar uma sala. Quantas coisas ouvimos a respeito desses profissionais tão importantes na formação cidadã e no pleno desenvolvimento da pessoa.
Chegamos a questionar: “O que estou fazendo em sala de aula?”, “Será que eles estão entendendo a aula?”, “Estou sendo compreendido?”, “Eles sabem que são estudantes?”, “Eles sabem onde estão?”.
“Atenção, turma! Eu posso dar aula?” Essa é a pergunta mais comum nas escolas diante da indisciplina e da falta de respeito para com o profissional da Educação. Estamos em nosso ambiente de trabalho, realizamos um demorado curso universitário, dedicamos tempo aos estudos, abdicamos de nossos filhos em prol do filho do outro e simplesmente não podemos dar aulas, não podemos trabalhar. Onde estamos? Alguém pode nos ajudar? Quais são os limites? Sou professor... Sim, sou.
Sou professor. Por que preciso pedir para dar aula?
Pens
em nisso.
Sérgio Marcelo Salvino Bezerra

Sérgio Marcelo Salvino Bezerra é professor das redes estadual e particular de ensino do Estado de Pernambuco.


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